Bloco de construção verde leva conchas de ostra e de marisco


Cascas de ostras e de mexilhões estão ganhando novos usos em Santa Catarina. E, quem diria… Na construção civil. Bernadete Batalha Batista, aluna de engenheira ambiental da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), dedicou dois anos para encontrar a combinação ideal, que garantisse um material resistente para criar o bloco ecológico. Em sua composição estão cascas de frutos do mar e resíduos de obras como pós de porcelanato e de vidro, além de areia e cimento.Vale ressaltar que o estado de Santa Catarina é o maior produtor nacional de ostras e mariscos. Estima-se que mensalmente cerca de 200 toneladas de cascas de ostras acabam no lixo, em terrenos baldios ou até mesmo no mar.

O bloco ecológico é fruto de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que ainda não foi apresentado, oficialmente, na universidade, mas já rendeu três premiações fora dela, além de ter sido contemplado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Com a verba a ser liberada em 2009, Bernadete pretende comprar maquinário e contratar pessoal para conseguir produzir em escala industrial a novidade, que dispensa o uso de quase 50% de areia e cimento, insumos responsáveis por 7% das emissões de CO2 no mundo. O projeto foi desenvolvido em parceria com a Blocaus Pré-fabricados, empresa localizada no município de São José, região metropolitana de Florianópolis, onde Bernadete era estagiária e, há um ano foi contratada.

“Tenho fila de espera de encomenda dos blocos verdes, mas é ainda é um produto artesanal, não consigo atender à demanda”, diz Bernadete que registrou patente de seu bloco.

Ela explica que a preocupação com o descarte das cascas de ostras e mariscos nos aterros contribuindo para proliferação de doenças ou no mar resultando em seu assoreamento (acúmulo de sedimentos) foi o ponto de partida para seu projeto.

“Ninguém me levava a sério, eu era vista como a louca que queria construir uma casa feita de conchas. Só o meu filho de 9 anos acreditava que daria certo”, relembra orgulhosa.
Blocos verdes, que levam conchas de ostras, mariscos de Santa Catarina

Como todos os testes de resistência à compressão do bloco ecológico e de absorção à água dentro dos padrões determinados pela Norma Técnicas Brasileiras (ABNT), Bernadete conquistou a confiança de acadêmicos e empresários do setor, houve também um acordo entre a Blocaus e a prefeitura de São José para que os caminhões que a prefeitura utilizava para recolher as cascas e levá-las para aterros passasse a entregar os resíduos diretamente para a indústria, onde ocorre sua transformação. Bernadete conta que a cada mês são recebe 46 toneladas de cascas de ostras e de mexilhões.

Calcula-se que com as 160 toneladas de cascas entregues nos últimos quatro meses foram feitos 40 mil blocos, montante necessário para ser construídas cerca de 20 casas, com 600 metros quadrados cada ou ainda 22 mil metros quadrados de calçadas ou pavimentos. Além de ecológico, o bloco de Bernadete é ainda mais barato. Cada unidade do bloco de concreto convencional custa, em média, R$1,70 (há variações referentes ao tamanho e ao modelo), o ecológico sai por R$1,50 a unidade.

Assim como seus projetos, a história pessoal de Bernadete também é bem interessante. Aos 16 anos, ela precisou abandonar os estudos por conta das dificuldades financeiras. Passou a trabalhar como recepcionista em hotéis e escolas. Quase 30 anos depois, decidiu virar a mesa e voltar a estudar. Fez supletivo, estudou muito e passou no vestibular. Contou com a ajuda e as aulas particulares de sua amiga e parceira a engenheira Mara Viviane dos Santos, que também se envolveu na criação dos blocos ecológicos.

“Era muito difícil para mim, pois fiquei muitos anos sem estudar. Ainda mais engenharia”, expõe Bernadete, que também está cursando também engenharia civil para ter pleno domínio das composições dos materiais de construção. Mesmo sem apresentar seu TCC sobre o uso das conchas de mariscos e ostras, ela já está com outra pesquisa em andamento com o uso de lodo de esgoto para criar mais uma versão do bloco ecológico. E já firmou parceria com a Portobello Cerâmicas.
“Sempre me interessei pelos assuntos relacionados à construção civil com foco no meio ambiente.”

Um comentário:

Wagner disse...

Peço licença para divulgar meu blog que mostra uma obra utilizando tijolo solo-cimento, mostra que existem várias alternativas mais práticas, econômicas e limpas para se construir.

Aqui temos a obra do começo até o fim (ainda está em construção): http://solocimento.blogspot.com.br/

Obrigado pelo espaço.